A
pedagoga Adriana Friedmann*, autora de diversos livros, defende a importância
da brincadeira para as crianças
Por Larissa Linder
Quando se
fala em brincar, normalmente o senso-comum nos leva a pensar que é
coisa de criança, ou que é apenas um passatempo. Há também quem veja as
brincadeiras como infantilidade fora de hora, especialmente no ambiente
escolar. Alguns professores têm dificuldade em lidar com as brincadeiras
livres, criadas pelas próprias crianças, e as usam apenas como uma ferramenta
de ensino de conteúdos. Mas brincar deve ir além disso. As brincadeiras têm
enorme importância no desenvolvimento das crianças. E, aliás, não apenas das
crianças: devem fazer parte de todas as fases da vida até a velhice,
respeitando as capacidades e as linguagens de cada idade. Para tirar dúvidas
sobre o brincar e esclarecer a sua importância, o Guia Prático entrevistou
Adriana Friedmann, doutoranda em Antropologia pela PUC, mestre em Metodologia
do Ensino pela UNICAMP, pedagoga pela USP e autora de vários livros sobre o
tema. Confira
Qual a
importância do brincar na infância? E em outras idades?
O brincar
é uma linguagem essencial na vida das crianças, e elas precisam vivê-lo para
poder se expressar e apreender o mundo, as pessoas e os objetos à sua volta,
assim como experimentar a vida, seus valores e as relações. Para o adolescente,
o brincar é essencial para dar vazão à sua fantasia, para experimentar diversas
habilidades, apreender valores e regras e para relacionar-se com os outros, ou
introjetar diversos conceitos. O adulto precisa do lúdico para ter canais
expressivos. E este lúdico passa pelo movimento, pelas diversas expressões
plásticas, pela música, pelos hobbies, pelas habilidades manuais e pela escrita
criativa, entre outras linguagens.
"O
professor precisa vivenciar as brincadeiras para, na sequência, refletir a
respeito dos seus potenciais e, assim, conscientizar-se da importância de
devolvê-las à vida das crianças e ao seu próprio trabalho." Adriana Friedmann
Como o
professor pode lidar com as brincadeiras na escola?
O
professor recebe uma formação 'pedagógica' e é, em geral, cobrado para seguir
um currículo que fica limitado a conhecimentos que passam mais pelo acúmulo de
informações em todas as áreas, deixando de lado o corpo e outras formas de
expressão não verbais. Nesse sentido, ele vê o brincar como um tempo
determinado de ócio (não trabalho), ou que só pode acontecer nos espaços do
recreio ou do tempo livre. Ele muitas vezes desconhece o potencial educacional
das brincadeiras e, por isso mesmo, nem imagina a possibilidade de trazê-las
para o seu cotidiano para dar oportunidade para as crianças crescerem,
desenvolverem-se e aprenderem por meio delas. O professor precisa vivenciar as
brincadeiras para, na sequência, refletir a respeito dos seus potenciais e,
assim, conscientizar-se da importância de devolvê-las à vida das crianças e ao
seu próprio trabalho.
Qual o
erro mais comum entre os professores ao tentarem estimular a brincadeira nos
alunos?
Em geral,
eles acabam utilizando as brincadeiras como instrumentos ou métodos pedagógicos
e, assim, o prazer, que é a marca essencial de qualquer atividade lúdica, acaba
se perdendo. Impor brincadeiras como métodos pedagógicos desencanta os alunos.
Há uma
maneira específica para estimular os alunos a brincar?
A única
maneira é tentar conhecer quais as brincadeiras de que os alunos mais gostam,
aprendê-las e brincar junto com eles para, assim, estabelecer um caminho de
diálogo. Pode-se, dessa maneira, estimulálos a recriar novas versões. O
respeito pelo repertório que eles trazem deve ser um traço do professor, no
sentido de dar verdadeiro valor a este patrimônio.
"Da
infância até a terceira idade, a brincadeira faz parte da vida de todo ser
humano"
Como o
professor pode se preparar?
Há
inúmeros cursos de formação, muitos livros com ideias, mas o essencial é o
professor brincar e vivenciar essas brincadeiras para poder compreender o que
esses brincares provocam internamente e seus potenciais latentes.
Quais as
diferenças entre brincar e jogar?
Brincar
implica mais liberdade, espontaneidade, regras mais flexíveis e mudanças de um
grupo a outro. Jogar tem a ver com respeito a regras externas ao grupo -
universais - e se relaciona, principalmente, com jogos de quadra ou de
tabuleiro.
Existe
uma idade certa para começar e para parar de estimular as brincadeiras?
Desde o
bebê que nasce até a terceira idade, a brincadeira faz parte da vida de todo
ser humano. O importante é que as brincadeiras sejam adequadas a cada idade
para não infantilizálas ou dificultá-las demais.
Como os
pais podem estimular o brincar com as crianças?
Brincando
junto, oferecendo tempo e espaços seguros, muito mais do que comprando grande
quantidade de brinquedos. Proporcionando a oportunidade de troca com outras
crianças, ou com adolescentes ou adultos.
As
crianças hoje brincam menos do que as gerações anteriores?
Não. As
crianças brincam de forma diferente e, mesmo com menos tempo ou falta de
espaços adequados, fazem de tudo para brincar em qualquer faixa etária e em
qualquer região.
Há
culturas onde as crianças brincam mais?
Em todas
as culturas as crianças brincam. Talvez nas comunidades indígenas se dê mais
valor ao tempo livre, à experimentação e à liberdade, aspectos que oportunizam
mais o brincar. Mas, mesmo as crianças que moram em
apartamentos, cortiços ou favelas, brincam.
*Adriana Friedmann é
doutoranda em Antropologia pela PUC, mestre em Metodologia do Ensino pela
UNICAMP e pedagoga pela USP. Coordenadora e docente do curso de pós-graduação
Educação Lúdica em Contextos Escolares, Não Formais e Corporativos no
Instituto Superior de Educação Vera Cruz. Consultora da Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal, com programas para crianças de 0 a 3 anos. Cofundadora
e membro do Conselho Consultivo da Aliança pela Infância no Brasil. Docente e
consultora na formação de educadores e na implantação de espaços lúdicos em
inúmeras instituições.
Autora dos livros:
"O Brincar no Cotidiano da Criança" (Editora Moderna, 2006) "O Desenvolvimento da Criança Através do Brincar" (Editora Moderna, 2006) "O Universo Simbólico da Criança: Olhares Sensíveis para a Infância" (Editora Vozes, 2005) "Dinâmicas Criativas- Um Caminho para a Transformação de Grupos" (Editora Vozes, 2004) "A Arte de Brincar" (Editora Vozes, 1992) "Brincar, Crescer e Aprender: o Resgate do Jogo Infantil" (Editora Moderna, 1992)
Coautora dos livros:
"O Direito de Brincar - A Brinquedoteca" (Editora Scritta, 1992) "Caminhos para uma Aliança pela Infância" (Aliança pela Infância, 2003) |
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